Trabalhador
A PreguiƧa
DISSERTAÇÃO MORAL DITADA POR SÃO LUÍS À SENHORITA HERMANCE DUFAUX 39
(5 de maio de 1858)
I
Um homem saiu muito cedo e foi à praça para contratar trabalhadores. Ora, ali viu dois homens do povo que estavam sentados e de braços cruzados. Foi a um deles e o abordou, dizendo: “Que fazes aqui?” Ao que o mesmo respondeu: “Não tenho trabalho”; o que procurava trabalhadores disse,então: “Pega a enxada e vai ao meu campo, na vertente da colina onde sopra o vento sul; cortarás as urzes e revolverás o solo até que venha a noite; a tarefa é rude, mas terás um bom salário.” E o homem do povo colocou a enxada no ombro e agradeceu ao outro de coração.

Ouvindo isso, o outro trabalhador levantou de seu lugar e aproximou-se, dizendo: “Senhor, deixai também que eu vá trabalhar em vosso campo”; e tendo dito a ambos que o seguissem,marchou à frente para mostrar-lhes o caminho. Depois, quando chegaram à encosta da colina, dividiu o trabalho em dois e se foi.

Logo que partiu, o último dos trabalhadores contratados pôs fogo no mato da gleba que lhe coube na partilha e lavrou a terra com a enxada. O suor minava em sua fronte, sob o calor ardente do sol. Murmurando a princípio, o outro o imitou, mas logo abandonou a tarefa; fincando a enxada no chão, sentou-se ao lado, olhando o trabalho que seu companheiro fazia.

Ora, no início da noite o dono do campo veio examinar o trabalho que havia sido realizado; chamando o trabalhador

39 N. do T.: O nome da médium Ermance Dufaux também aparece grafado com h (Hermance).

diligente, cumprimentou-o, dizendo: “Trabalhaste bem; eis o teu salário”; e o despediu, após dar-lhe uma moeda de prata. O outro também se aproximou, reclamando o valor de seu salário; mas o dono lhe disse: “Mau trabalhador, meu pão não saciará tua fome, porque deixaste inculta a parte do campo que te foi confiada; não é justo que aquele que nada fez seja recompensado como o que trabalhou bem”. E o despediu, sem dar-lhe nada.
II
Eu vos digo que a força não foi dada ao homem, nem a inteligência ao seu espírito para consumir os dias na ociosidade, mas para ser útil aos semelhantes. Ora, aquele cujas mãos estiverem desocupadas e o espírito ocioso será punido e deverá recomeçar sua tarefa.

Em verdade vos digo que sua vida será posta de lado como uma coisa que a ninguém aproveita, quando seu tempo se cumprir; compreendei isso como uma comparação. Qual dentre vós,se tiverdes em vosso pomar uma árvore que não dê bons frutos, não dirá a seu servo: “Cortai essa árvore e lançai-a no fogo, porque seus ramos são estéreis?” Ora, assim como tal árvore será cortada por causa de sua esterilidade, a vida do preguiçoso será posta no refugo, por ter sido estéril em boas obras.
R.E. , junho de 1858, p. 254