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O INDEX DA CÚRIA ROMANA

A data de 1o de maio de 1864 será marcada nos anais do Espiritismo, como a de 9 de outubro de 1861. Ela lembrará a decisão da sagrada congregação do Index, concernente às nossas obras sobre o Espiritismo. Se uma coisa surpreendeu os espíritas, é que tal decisão não tenha sido tomada mais cedo. Aliás, uma só é a opinião sobre os bons efeitos que ela deve produzir, já confirmados pelas informações que nos chegam de todos os lados. A essa notícia, a maioria dos livreiros se apressou em pôr essas obras mais em evidência. Alguns, mais timoratos, crendo numa proibição de sua venda, as retiraram das prateleiras, mas nem por isso deixam de vendê-las furtivamente. Tranqüilizaram-nos, fazendo-lhes observar que a lei orgânica diz que “Nenhuma bula, breve, decreto, mandato, provisão, assinatura servindo de provisão, nem outros 14 N. do T.: Parece que se dá exatamente o inverso: a luz difusa causa dissolução dos fluidos. expedientes da cúria de Roma, mesmo que só digam respeito aos particulares, poderão ser recebidos, publicados, impressos nem de qualquer modo executados sem autorização do governo.”

Quanto a nós, esta medida, que é uma das que esperávamos, é um sinal que aproveitaremos, e que servirá de guia para os nossos trabalhos ulteriores.

PERSEGUIÇÕES MILITARES

Conta o Espiritismo numerosos representantes no exército, entre oficiais de todos os graus, que lhe constatam a influência benfazeja sobre si mesmos e sobre os subalternos. Em algumas regiões, no entanto, entre os chefes superiores, encontra não negadores, mas adversários declarados, que interditam formalmente a seus subordinados de dele se ocuparem. Conhecemos um oficial que foi riscado do quadro de propostas para a Legião de Honra e outros que foram confinados por causa do Espiritismo. Temos aconselhado que se submetam sem murmúrio à disciplina hierárquica e que esperem pacientemente uma ocasião melhor, que não pode tardar, pois será levado pela força da opinião. Temos mesmo aconselhado a se absterem de toda manifestação espírita exterior, se preciso for, porque nenhum constrangimento pode ser exercido sobre sua crença íntima, nem lhes tirar as consolações e o encorajamento que nele haurem. Essas pequenas perseguições são provas para sua fé e servem ao Espiritismo, em vez de o prejudicar. Devem considerar-se felizes por sofrer um pouco por uma causa que lhes é cara. Não se orgulham de deixar um membro no campo de batalha pela pátria terrestre? Que são, pois, alguns dissabores e contrariedades suportados pela pátria eterna e pela causa da Humanidade?

UM ATO DE JUSTIÇA

Domingo, 3 de abril de 1864 foi um dia de grande festa para a comuna de Cempuis, perto de Grandvilliers (Oise). Milhares de pessoas ali se achavam reunidas para uma tocante cerimônia, que deixará lembranças inapagáveis no coração de todos os presentes. O Sr. Prévost, nosso colega, membro da Sociedade Espírita de Paris, fundador do asilo de Cempuis e das sociedades de auxílio mútuo do bairro, foi o modesto herói. Um imenso cortejo,precedido pela banda de Grandvilliers, o conduziu à prefeitura, onde recebeu das mãos da autoridade departamental a medalha de honra de que se fez merecedor por seu devotamento à causa da humanidade sofredora. No discurso pronunciado na ocasião pelo delegado da prefeitura, destacamos a seguinte passagem:

“Senhores, se nesta revista sumária consegui que cada um fizesse a parte merecida que lhe cabe na consagração deste grande dia, que me seja permitido rejubilar-me convosco, como se fora a execução de um dever que, por todos os títulos, me era muito caro.

“É, pois, com indizível alegria e legítimo orgulho que todos verão sobre o nobre peito do Sr. Prévost este símbolo honorífico, que o Imperador aí quis ver ligar em seu nome,esperando – não o duvidemos – que a estrela de honra aí venha brilhar com sua mais viva luz.

“Antes de encerrar esta bela cerimônia, à qual a juventude está, de pleno direito, impaciente para substituir por sua alegre animação, façamos remontar a nossa alegria e a nossa gratidão até o seu autor augusto, o Imperador, bem como ao seu fiel intérprete, o Sr. prefeito de Oise.”

A Sociedade Espírita de Paris também se orgulha com a honra prestada a um de seus membros altamente reconhecidos. (Para detalhes sobre o asilo de Cempuis, vide a Revista Espírita de outubro de 1863).

Allan Kardec
R.E. , junho de 1864, p. 259