Animais
Dissertações e Ensinos Espíritas
DA INFLUÊNCIA MORAL DOS MÉDIUNS NAS COMUNICAÇÕES 33

(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. d’Ambel)
Já o dissemos: apenas como tais, os médiuns só muito secundária influência exercem nas comunicações dos Espíritos; o papel deles é o de uma máquina elétrica, que transmite os despachos telegráficos, de um ponto da Terra a outro ponto distante. Assim, quando queremos ditar uma comunicação, agimos sobre o médium, como o empregado do telégrafo sobre o aparelho, isto é, do mesmo modo que o tique-taque do telégrafo traça, a milhares de léguas, sobre uma tira de papel, os sinais reprodutores do despacho, também nós comunicamos, por meio do aparelho mediúnico, através das distâncias incomensuráveis que separam o mundo visível do mundo invisível, o mundo imaterial do mundo carnal, o que vos queremos ensinar. Mas, assim como as influências atmosféricas atuam, perturbando, muitas vezes, as transmissões do telégrafo elétrico, igualmente a influência moral do médium atua e
perturba, às vezes, a transmissão dos nossos despachos de alémtúmulo,porque somos obrigados a fazê-los passar por um meio que lhes é contrário. Entretanto, essa influência, amiúde, se anula,pela nossa energia e vontade, e nenhum ato perturbador se manifesta. Com efeito, os ditados de alto alcance filosófico, as comunicações de perfeita moralidade são transmitidas freqüentemente por médiuns impróprios a esses ensinos superiores; 33 N. do T.: Vide O Livro dos Médiuns – 2a parte, capítulo XX, item 230. enquanto que, por outro lado, comunicações pouco edificantes chegam também, algumas vezes, por médiuns que se envergonham de lhes haverem servido de condutores.

Em tese geral, pode afirmar-se que os Espíritos atraem Espíritos que lhes são similares e que raramente os Espíritos das plêiades elevadas se comunicam por aparelhos maus condutores,quando têm à mão bons aparelhos mediúnicos, bons médiuns, numa palavra.

Os médiuns levianos e pouco sérios atraem, pois,Espíritos da mesma natureza; por isso é que suas comunicações se mostram cheias de banalidades, frivolidades, idéias truncadas e, não raro, muito heterodoxas, espiriticamente falando. É certo que eles podem dizer, e às vezes dizem, coisas aproveitáveis; mas, nesse caso, principalmente, é que um exame severo e escrupuloso se faz necessário, porquanto, em meio a coisas aproveitáveis, Espíritos hipócritas insinuam, com habilidade e preconcebida perfídia, fatos de pura invencionice, asserções mentirosas, a fim de iludir a boa-fé dos que lhes dispensam atenção. Devem riscar-se, então, sem piedade, toda palavra, toda frase equívoca e só con-servar do ditado o que a lógica possa aceitar, ou o que a Doutrina já ensinou. As  comunicações desta natureza só são de temer para os espíritas que trabalham isolados, para os grupos novos, ou pouco esclarecidos, visto que, nas reuniões onde os adeptos estão adiantados e já adquiriram experiências, a gralha perde o seu tempo a se adornar com as penas do pavão: acaba sempre impiedosamente desmascarada.

Não falarei dos médiuns que se comprazem em solicitar e receber comunicações obscenas. Deixemos se deleitem na companhia dos Espíritos cínicos. Aliás, os autores das comunicações desta ordem buscam, por si mesmos, a solidão e o isolamento, porquanto só desprezo e nojo poderão causar entre os membros dos grupos filosóficos e sérios. Onde, porém, a influência moral do médium se faz realmente sentir, é quando ele substitui, pelas que lhe são pessoais, as idéias que os Espíritos se esforçam por lhe sugerir e também quando tira da sua imaginação teorias fantásticas que, de boa-fé, julga resultarem de uma comunicação intuitiva. É de apostar-se então mil contra um que isso não passa de reflexo do próprio Espírito do médium. Dá-se mesmo o fato curioso de mover-se a mão do médium, quase mecanicamente às vezes, impelida por um Espírito secundário e zombeteiro. É essa a pedra de toque contra a qual vêm quebrar-se as imaginações ardentes, por isso que, arrebatados pelo ímpeto de suas próprias idéias, pelas lentejoulas de seus conhecimentos literários, os médiuns desconhecem o ditado modesto de um Espírito criterioso e, abandonando a presa pela sombra, o substituem por uma paráfrase empolada. Contra este escolho terrível vêm igualmente chocar-se as personalidades ambiciosas que, em falta das comunicações que os Espíritos bons lhes recusam, apresentam suas próprias obras como sendo desses Espíritos. Daí a necessidade de serem, os diretores dos grupos espíritas, dotados de fino tato, de rara sagacidade, para discernir as comunicações autênticas das que não o são e para não ferir os que se iludem a si mesmos.

Na dúvida, abstém-te, diz um dos vossos velhos provérbios. Não admitais, portanto, senão o que seja, aos vossos olhos, de manifesta evidência. Desde que uma opinião nova venha a ser expendida, por pouco que vos pareça duvidosa, fazei-a passar pelo crisol da razão e da lógica e rejeitai desassombradamente o que a razão e o bom-senso reprovarem. Melhor é repelir dez verdades do que admitir uma única falsidade, uma só teoria errônea. Efetivamente, sobre essa teoria poderíeis edificar um sistema completo, que desmoronaria ao primeiro sopro da verdade, como um monumento edificado sobre areia movediça, ao passo que, se rejeitardes hoje algumas verdades, porque não vos são demonstradas clara e logicamente, mais tarde um fato brutal, ou uma demonstração irrefutável virá afirmar-vos a sua autenticidade. Lembrai-vos, no entanto, ó espíritas! de que, para Deus e para os Espíritos bons, só há um impossível: a injustiça e a iniqüidade.

O Espiritismo já está bastante espalhado entre os homens e já moralizou suficientemente os adeptos sinceros da sua santa doutrina, para que os Espíritos já não se vejam constrangidos a usar de maus instrumentos, de médiuns imperfeitos. Se, pois, agora, um médium, qualquer que ele seja, se tornar objeto de legítima suspeição, pelo seu proceder, pelos seus costumes, pelo seu orgulho, pela sua falta de amor e de caridade, repeli, repeli suas comunicações,porquanto aí estará uma serpente oculta entre as ervas. É esta a conclusão a que chego sobre a influência moral dos médiuns.

Erasto

DOS TRANSPORTES E OUTROS FENÔMENOS TANGÍVEIS34

(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. d’Ambel)

Quem deseja obter fenômeno desta ordem precisa ter consigo médiuns a que chamarei – sensitivos, isto é, dotados, no mais alto grau, das faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade, porque o sistema nervoso facilmente excitável de tais médiuns lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar abundantemente, em torno de si, o fluído animalizado que lhes é próprio.

As naturezas impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram à menor impressão, à mais insignificante sensação; as que a influência moral ou física, interna ou externa, sensibiliza são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns, para os efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Efetivamente, quase de todo desprovido do invólucro refratário, que, na maioria dos outros encarnados, o isola, o sistema nervoso dessas pessoas as capacita para a produção destes diversos fenômenos. Assim, com 34 N. do T.: Vide O Livro dos Médiuns, 2a parte, capítulo V, item 98. um indivíduo de tal natureza e cujas outras faculdades não sejam hostis à mediunidade, facilmente se obterão os fenômenos de tangibilidade, as pancadas nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes e mesmo a suspensão, no espaço, da mais pesada matéria inerte. A fortiori, os mesmos resultados se conseguirão se, em vez de um médium, o experimentador dispuser de muitos, igualmente bem dotados.

Mas, da produção de tais fenômenos à obtenção dos de transporte há um mundo de permeio, porquanto, neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como,sobretudo, ele não pode operar, senão por meio de um único aparelho mediúnico, isto é, muitos médiuns não podem concorrer simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Sucede até que, ao contrário, a presença de algumas pessoas antipáticas ao Espírito que opera lhe obsta radicalmente a operação. A estes motivos a que, como vedes, não falta importância, acrescentemos que os transportes reclamam sempre maior concentração e, ao mesmo tempo, maior difusão de certos fluidos, que não podem ser obtidos senão com médiuns superiormente dotados, com aqueles, numa palavra, cujo aparelho eletromediúnico é o que melhores condições oferece.

Em geral, os fatos de transporte são e continuarão a ser extremamente raros. Não preciso demonstrar por que são e serão menos freqüentes do que os outros fenômenos de tangibilidade; do que digo, vós mesmos podeis deduzi-lo. Demais, estes fenômenos são de tal natureza, que nem todos os médiuns servem para produzi-los. Com efeito, é necessário que entre o Espírito e o médium influenciado exista certa afinidade, certa analogia: certa semelhança capaz de permitir que a parte expansível do fluido perispirítico35 do encarnado se misture, se una, se combine com o do 35 Vê-se que, quando se trata de exprimir uma idéia nova, para a qual faltam termos na língua, os Espíritos sabem perfeitamente criar neologismos. Estas palavras: eletromediúnico, perispirítico, não são de invenção nossa. Os que nos têm criticado por havermos criado os termos espírita, Espiritismo, perispírito, que não tinham análogos, poderão fazer também a mesma crítica aos Espíritos. Espírito que queira fazer um transporte. Deve ser tal essa fusão,que a força resultante dela se torne, por assim dizer, uma: do mesmo modo que, atuando sobre o carvão, uma corrente elétrica produz um só foco, uma só claridade.

Por que essa união, essa fusão, perguntareis? É que,para que estes fenômenos se produzam, necessário se faz que as propriedades essenciais do Espírito motor se aumentem com algumas das do médium; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, é apanágio exclusivo do encarnado e que, por conseguinte, o Espírito operador fica obrigado a se impregnar dele. Só então pode, mediante certas propriedades, que desconheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e fazer que se movam alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.

Não me é permitido, por enquanto, desvendar-vos as leis particulares que governam os gases e os fluidos que vos cercam; mas, antes que alguns anos tenham decorrido, antes que uma existência de homem se tenha esgotado, a explicação destas leis e destes fenômenos vos será revelada e vereis surgir e produzirse uma variedade nova de médiuns, que agirão num estado cataléptico especial, desde que sejam mediunizados.

Vedes, assim, quantas dificuldades cercam a produção do fenômeno dos transportes. Muito logicamente podeis concluir daí que os fenômenos desta natureza são extremamente raros, e com tanto mais razão, quanto os Espíritos muito pouco se prestam a produzi-los, porque isso dá lugar, da parte deles, a um trabalho quase material, o que lhes acarreta aborrecimento e fadiga. Por outro lado, ocorre também que, freqüentemente, não obstante a energia e a vontade que os animem, o estado do próprio médium lhes opõe intransponível barreira.

Evidente é, pois, e o vosso raciocínio, estou certo, o sancionará, que os fatos de tangibilidade, como pancadas, suspensão e movimentos, são fenômenos simples, que se operam mediante a concentração e a dilatação de certos fluidos e que podem ser provocados e obtidos pela vontade e pelo trabalho dos médiuns aptos a isso, quando secundados por Espíritos amigos e benevolentes, ao passo que os fatos de transporte são múltiplos,complexos, exigem um concurso de circunstâncias especiais, não se podem operar senão por um único Espírito e um único médium e necessitam, além do que a tangibilidade reclama, uma combinação muito especial, para isolar e tornar invisíveis o objeto, ou os objetos destinados ao transporte.

Todos vós espíritas compreendeis as minhas explicações e perfeitamente apreendeis que seja essa concentração de fluidos especiais, para a locomoção e a tactilidade da matéria inerte. Acreditais nisso, como acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo, com os quais os fatos mediúnicos têm grande analogia e de que são, por assim dizer, a confirmação e o desenvolvimento. Quanto aos incrédulos, não me compete convencê-los e com eles não me ocupo. Convencer-se-ão um dia, por força da evidência, pois que forçoso será se curvem diante do testemunho dos fatos espíritas, como forçoso foi que o fizessem diante de outros fatos, que a princípio repeliram.

Resumindo: os fenômenos de tangibilidade são freqüentes, mas os de transporte são muito raros, porque muito difíceis de se realizar são as condições em que se produzem. Conseguintemente, nenhum médium pode dizer: a tal hora, em tal momento, obterei um transporte, visto que muitas vezes o próprio Espírito se vê obstado na execução de sua obra. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis em público, porque neste quase sempre se encontram elementos energicamente refratários, que paralisam os esforços do Espírito e, com mais forte razão, a ação do médium. Tende, ao contrário, como certo que, na intimidade, os ditos fenômenos se produzem quase sempre espontaneamente, as mais das vezes à revelia dos médiuns e sem premeditação, sendo muito raros quando esses se acham prevenidos. Deveis deduzir daí que há motivo de suspeição todas as vezes que um médium se lisonjeia de os obter à vontade, ou, por outra, de dar ordens aos Espíritos, como a servos seus, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda como regra geral que os fenômenos espíritas não se produzem para constituir espetáculo e para divertir os curiosos. Se alguns Espíritos se prestam a tais coisas, só pode ser para a produção de fenômenos simples, não para os que, como os de transporte e outros semelhantes, exigem condições excepcionais.

Lembrai-vos, espíritas, de que, se é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de além-túmulo, também não é de bom aviso aceitá-los todos, cegamente. Quando um fenômeno de tangibilidade, de visibilidade, ou de transporte se opera espontaneamente e de modo instantâneo, aceitai-o. Porém – nunca o repetirei demasiado – não aceiteis coisa alguma às cegas. Seja cada fato submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo, porquanto, crede, o Espiritismo, tão rico em fenômenos sublimes e grandiosos, nada tem a ganhar com essas pequenas manifestações, que prestidigitadores hábeis podem imitar.

Bem sei que ides dizer: é que estes são úteis para convencer os incrédulos. Mas, ficai sabendo, se não houvésseis disposto de outros meios de convicção, não contaríeis hoje a centésima parte dos espíritas que existem. Falai ao coração; por aí é que fareis maior número de conversões sérias. Se julgardes conveniente, para certas pessoas, valer-vos dos fatos materiais, ao menos apresentai-os em circunstâncias tais, que não possam permitir nenhuma interpretação falsa e, sobretudo, não vos afasteis das condições normais dos mesmos fatos, porque, apresentados em más condições, eles fornecem argumentos aos incrédulos, em vez de convencê-los.

Erasto

OS ANIMAIS MÉDIUNS36, 37

(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sr. d’Ambel)

Explanarei hoje a questão da mediunidade dos animais,levantada e sustentada por um dos vossos mais fervorosos adeptos. Pretende ele, em virtude deste axioma: Quem pode o mais pode o menos, que podemos mediunizar os pássaros e os outros animais e servir-nos deles nas nossas comunicações com a espécie humana. É o que chamais, em filosofia, ou, antes, em lógica, pura e simplesmente um sofisma. “Podeis animar, diz ele, a matéria inerte, isto é, uma mesa, uma cadeira, um piano; a fortiori, deveis poder animar a matéria já animada e particularmente pássaros.” Pois bem! no estado normal do Espiritismo, não é assim, não pode ser assim.

Primeiramente, entendamo-nos bem acerca dos fatos. Que é um médium? É o ser, é o indivíduo que serve de traço de união aos Espíritos, para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens: Espíritos encarnados. Por conseguinte, sem médium, não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer natureza que seja.

Há um princípio que, estou certo, todos os espíritas admitem, é que os semelhantes atuam com seus semelhantes e como seus semelhantes. Ora, quais são os semelhantes dos Espíritos, senão os Espíritos, encarnados ou não? Será preciso que vo-lo repitamos incessantemente? Pois bem! repeti-lo-ei ainda: o vosso perispírito e o nosso procedem do mesmo meio, são de natureza idêntica, são, numa palavra, semelhantes. Possuem uma propriedade de assimilação mais ou menos desenvolvida, de magnetização mais ou menos vigorosa, que nos permite a nós,Espíritos desencarnados e encarnados, pormo-nos muito pronta e facilmente em comunicação. Enfim, o que é peculiar aos médiuns,o que é da essência mesma da individualidade deles, é uma 36 N. do T.: Vide O Livro dos Médiuns, 2a parte, capítulo XXII, item 236. 37 Nota da Editora: Ver “Nota Explicativa”, p. 567. afinidade especial e, ao mesmo tempo, uma força de expansão particular, que lhes suprimem toda refratariedade e estabelecem, entre eles e nós, uma espécie de corrente, uma espécie de fusão, que nos facilita as comunicações. É, em suma, essa refratariedade da matéria que se opõe ao desenvolvimento da mediunidade, na maior parte dos que não são médiuns. Acrescentarei que é a essa qualidade refratária que deve ser atribuída a particularidade, que faz que certos indivíduos, não médiuns, transmitam e desenvolvam a mediunidade, pelo simples contato, a médiuns neófitos ou médiuns quase passivos, isto é, desprovidos de certas qualidades mediúnicas.

Os homens se mostram sempre propensos a tudo exagerar; uns – não falo aqui dos materialistas – negam alma aos animais, outros de boa mente lhes atribuem uma, igual, por assim dizer, à nossa. Por que hão de pretender deste modo confundir o perfectível com o imperfectível? Não, não, convencei-vos, o fogo que anima os irracionais, o sopro que os faz agir, mover e falar na linguagem que lhes é própria, não tem, quanto ao presente,nenhuma aptidão para se mesclar, unir, fundir com o sopro divino, a alma etérea, o Espírito em uma palavra, que anima o ser essencialmente perfectível: o homem, o rei da Criação. Ora, não é
essa condição fundamental de perfectibilidade o que constitui a superioridade da espécie humana sobre as outras espécies terrestres? Reconhecei, então, que não se pode assimilar ao homem, que só ele é perfectível em si mesmo e nas suas obras, nenhum indivíduo das outras raças que vivem na Terra.

O cão que, pela sua inteligência superior entre os animais, se tornou o amigo e o comensal do homem, será perfectível por si mesmo, por sua iniciativa pessoal? Ninguém ousaria afirmálo,porquanto o cão não faz progredir o cão. O que, dentre eles, se mostre mais bem educado, sempre o foi pelo seu dono. Desde que o mundo é mundo, a lontra sempre construiu sua choça em cima d'água, seguindo as mesmas proporções e uma regra invariável; os rouxinóis e as andorinhas jamais construíram os respectivos ninhos senão do mesmo modo que seus pais o fizeram. Um ninho de pardais de antes do dilúvio, como um ninho de pardais dos tempos modernos, é sempre um ninho de pardais, edificado nas mesmas condições e com o mesmo sistema de entrelaçamento das palhinhas e dos fragmentos apanhados na época dos amores. As abelhas e formigas, que formam pequeninas repúblicas bem administradas, jamais mudaram seus hábitos de abastecimento, sua maneira de proceder, seus costumes, suas produções. A aranha, finalmente, tece a sua teia sempre do mesmo modo.

Por outro lado, se procurardes as cabanas de folhagens e as tendas das primeiras idades do mundo, encontrareis, em lugar de umas e outras, os palácios e os castelos da civilização moderna. Às vestes de peles brutas sucederam os tecidos de ouro e seda. Enfim, a cada passo achais a prova da marcha incessante da Humanidade pela senda do progresso.

Desse progredir constante, invencível, irrecusável, da espécie humana e desse estacionamento indefinido das outras espécies animais, haveis de concluir comigo que, se é certo que existem princípios comuns a tudo o que vive e se move na Terra: o sopro e a matéria, não menos certo é que somente vós, Espíritos encarnados, estais submetidos à inevitável lei do progresso, que vos impele fatalmente para diante e sempre para diante. Deus colocou os animais ao vosso lado como auxiliares, para vos alimentarem, para vos vestirem, para vos secundarem. Deu-lhes uma certa dose de inteligência, porque, para vos ajudarem, precisavam compreender, porém lhes outorgou inteligência apenas proporcionada aos serviços que são chamados a prestar. Mas, em sua sabedoria, não quis que estivessem sujeitos à mesma lei do progresso. Tais como foram criados se conservaram e se conservarão até à extinção de suas raças.

Dizem: os Espíritos mediunizam a matéria inerte e fazem que se movam cadeiras, mesas, pianos. Fazem que se movam, sim, mediunizam, não! porquanto, mais uma vez o digo, sem médium, nenhum desses fenômenos pode produzir-se. Que há de extraordinário em que, com o auxílio de um ou de muitos médiuns,façamos se mova a matéria inerte, passiva, que, precisamente em virtude da sua passividade, da sua inércia, é apropriada a executar os movimentos e as impulsões que lhe queiramos imprimir? Para isso, precisamos de médiuns, é positivo; mas, não é necessário que o médium esteja presente ou seja consciente, pois que podemos atuar com os elementos que ele nos fornece, a seu mau grado e ausente,sobretudo para produzir os fatos de tangibilidade e o de transportes. O nosso envoltório fluídico, mais imponderável e mais sutil do que o mais sutil e o mais imponderável dos vossos gases, com uma propriedade de expansão e de penetrabilidade inapreciável para os vossos sentidos grosseiros e quase inexplicável para vós, unindo-se, casando-se, combinando-se com o envoltório fluídico, porém animalizado, do médium, nos permite imprimir
movimento a móveis quaisquer e até quebrá-los em aposentos desabitados.

É certo que os Espíritos podem tornar-se visíveis e tangíveis aos animais e, muitas vezes, o terror súbito que eles denotam, sem que lhe percebais a causa, é determinado pela visão de um ou de muitos Espíritos, mal-intencionados com relação aos indivíduos presentes, ou com relação aos donos dos animais. Ainda com mais freqüência vedes cavalos que se negam a avançar ou a recuar, ou que empinam diante de um obstáculo imaginário. Pois bem! tende como certo que o obstáculo imaginário é quase sempre um Espírito ou um grupo de Espíritos que se comprazem em impedi-los de mover-se. Lembrai-vos da mula de Balaão que, vendo um anjo diante de si e temendo-lhe a espada flamejante, se obstinava em não dar um passo. É que, antes de se manifestar visivelmente a Balãao, o anjo quisera tornar-se visível somente para o animal. Mas, repito, não mediunizamos diretamente nem os animais, nem a matéria inerte. É-nos sempre necessário o concurso consciente, ou inconsciente, de um médium humano, porque precisamos da união de fluidos similares, o que não achamos nem nos animais, nem na matéria bruta.

O Sr. Thiry, diz-se, magnetizou o seu cão. A que resultado chegou? Matou-o, porquanto o infeliz animal morreu, depois de haver caído numa espécie de atonia, de langor,conseqüentes à sua magnetização. Com efeito, saturando-o de um fluido haurido numa essência superior à essência especial da sua natureza de cão, ele o esmagou, agindo sobre o animal à semelhança do raio, ainda que mais lentamente. Assim, pois, como não há assimilação possível entre o nosso perispírito e o envoltório fluídico dos animais, propriamente ditos, aniquilá-los-íamos instantaneamente, se os mediunizássemos.

Isto posto, reconheço perfeitamente que há nos animais aptidões diversas; que certos sentimentos, certas paixões, idênticas às paixões e aos sentimentos humanos, se desenvolvem neles; que são sensíveis e reconhecidos, vingativos e odientos, conforme se procede bem ou mal com eles. É que Deus, que nada fez incompleto, deu aos animais, companheiros ou servidores do homem, qualidades de sociabilidade, que faltam inteiramente aos animais selvagens, habitantes das solidões.

Resumindo: os fatos mediúnicos não podem dar-se sem o concurso consciente, ou inconsciente, dos médiuns; e somente entre os encarnados, Espíritos como nós, podemos encontrar os que nos sirvam de médiuns. Quanto a educar cães, pássaros, ou outros animais, para fazerem tais ou tais exercícios, é trabalho vosso e não nosso.

Erasto

Observação – A propósito da discussão que ocorreu na Sociedade, sobre a mediunidade dos animais, disse o Sr. Allan Kardec ter observado muito atentamente as experiências feitas nestes últimos tempos em aves, às quais se atribuía a faculdade mediúnica, acrescentando ter reconhecido, de maneira incontestável, os processos da prestidigitação, isto é, das cartas marcadas38, empregadas com muita habilidade, para darem ilusão ao espectador que, sem se preocupar com o fundo, contenta-se apenas com a aparência. Efetivamente, essas aves fazem coisas que nem o mais inteligente dos homens, nem mesmo o sonâmbulo mais lúcido poderiam fazer, levando-se a concluir que seriam dotadas de faculdades intelectuais superiores às do homem e assim contrariando as leis da Natureza. O que mais se deve admirar em tais experiências é a arte, a paciência que foi preciso desenvolver para adestrar esses animais, tornando-os dóceis e atentos. Para obter tais resultados, certamente foi necessário ocupar-se com naturezas flexíveis, mas, em última análise, só com animais amestrados, nos quais há mais hábito do que combinações. E a prova disso é que, se deixam de treiná-los durante algum tempo,logo perdem o que aprenderam. O encanto dessas experiências, como o de todas as manobras de prestidigitação, está no segredo dos processos utilizados. Uma vez conhecido o processo, perdem todo o seu atrativo; foi o que aconteceu quando os saltimbancos quiseram imitar a lucidez sonambúlica pelo pretenso fenômeno a que chamavam dupla vista. Nesse caso, não pode haver ilusão para quem quer que conheça as condições normais do sonambulismo. Dá-se o mesmo com a pretensa mediunidade das aves, facilmente percebida por qualquer observador experiente.

POVOS, SILÊNCIO!

(Enviada pelo Sr. Sabò, de Bordeaux – Médium: Sra. Cazemajoux)

Para onde correm essas crianças vestidas de túnicas brancas? A alegria ilumina-lhes o coração. Essa multidão folgazã vai brincar nos verdes prados, onde farão uma ampla colheita de flores e perseguirão o inseto brilhante que se nutre em seus cálices. Despreocupadas e felizes nada percebem além do horizonte azul 38 N. do T.: Carte forcée, no original = constrangimento. No contexto da frase, traduzimos por cartas marcadas. que as cerca. Sua queda será terrível se não vos apressardes em predispor seus corações aos ensinamentos espíritas. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar a vós. Escutai suas vozes amigas; escutai atentamente. Povos, silêncio!

II

Elas se tornaram grandes e fortes. A beleza máscula de uns, a graça e o abandono de outras fazem reviver no coração dos pais as doces lembranças de uma época já distante, mas o sorriso que ia desabrochar em seus lábios emurchecidos desaparece para dar lugar a sombrias preocupações. É que também sorveram, em grandes tragos, na taça encantada das ilusões da juventude, o veneno sutil que lhes enfraqueceu o sangue, debilitou-lhes as forças e lhes envelheceu os rostos, tornando-os calvos. Por isso, gostariam de impedir os filhos de provar a mesma taça envenenada. Irmãos! o Espiritismo será o antídoto que deve preservar a nova geração de suas devastações mortais. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar a vós. Escutai suas vozes amigas; escutai atentamente. Povos, silêncio!

III

Alcançaram a virilidade; tornaram-se homens. São sérios e graves, mas não são felizes; seus corações estão entediados e não têm senão uma fibra sensível: a da ambição. Empregam tudo quanto têm de força e de energia na aquisição dos bens terrestres. Para eles não há felicidade sem as dignidades, as honrarias, a fortuna. Insensatos! De um instante para outro o anjo da libertação vai abater-vos; sereis forçados a abandonar todas as quimeras; sois proscritos que Deus pode convocar à mãe-pátria a qualquer instante. Não edifiqueis palácios nem monumentos; uma tenda,roupas e pão, eis o necessário. Contentai-vos com isto e oferecei o supérfluo aos irmãos a quem tudo falta: abrigo, roupa e pão. O Espiritismo vem dizer-vos que os verdadeiros tesouros que deveis conquistar são o amor de Deus e do próximo. Eles vos farão ricos para a eternidade. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar a vós. Escutai suas vozes amigas; escutai atentamente. Povos, silêncio!

IV

Suas frontes se inclinam à beira do sepulcro. Têm medo e queriam erguer a cabeça; mas o tempo lhes arqueou as espáduas, endureceu-lhes os nervos e os músculos e eles são impotentes para olhar para o alto. Ah! quantas angústias vêm assaltá-los! Repassam nos refolhos da alma sua vida inútil e muitas vezes criminosa; o remorso os corrói, como um abutre esfaimado. É que, freqüentemente, no curso dessa existência, esgotada na indiferença,negaram seu Deus, que, à borda da sepultura, lhes aparece como vingador inexorável. Não temais, irmãos, e orai. Se, em sua justiça,Deus vos castiga, fará graça ao vosso arrependimento, porquanto o Espiritismo vem dizer-vos que a eternidade das penas não existe e que renasceis para vos purificardes e expiar. Assim, vós que estais fatigados do exílio na Terra, envidai todos os esforços para melhorardes, a fim de a ela não mais retornar. Porque os Espíritos do Senhor atravessaram as nuvens e vêm pregar a vós. Escutai suas vozes amigas; escutai atentamente. Povos, silêncio!

Byron

JEAN-JACQUES ROUSSEAU

(Médium – Sra. Costel)

Nota – A médium estava ocupada com assuntos alheios ao Espiritismo; dispunha-se a escrever sobre assuntos pessoais, quando uma força invisível a compeliu a dissertar o que segue,malgrado o seu desejo de continuar o trabalho começado. É o que explica o início da comunicação:

“Eis-me aqui, embora não me chamasses. Venho falarte de coisas muito estranhas às tuas preocupações. Sou o Espírito Jean-Jacques Rousseau. Há tempos esperava a ocasião de me comunicar contigo. Escuta, pois.

“Penso que o Espiritismo é um estudo puramente filosófico das causas secretas dos movimentos interiores da alma, pouco ou nada definidos até agora. Explica, mais ainda do que descobre, horizontes novos. A reencarnação e as provas sofridas antes de alcançar o fim supremo não são revelações, mas uma confirmação importante. Estou comovido pelas verdades que esse meio põe à luz. Digo meio intencionalmente, porque, a meu ver, o Espiritismo é uma alavanca que afasta as barreiras da cegueira. A preocupação das questões morais está inteiramente por nascer. Discute-se política, que move os interesses morais; discute-se os interesses privados; apaixona-se pelo ataque ou pela defesa das personalidades; os sistemas têm seus partidários e seus detratores,mas as verdades morais, as que constituem o pão da alma, o alimento da vida, são deixadas na poeira acumulada pelos séculos. Aos olhos da multidão, todos os aperfeiçoamentos são úteis, salvo os da alma; sua educação, sua elevação são quimeras, boas só para deleitarem os sacerdotes, os poetas, as mulheres, seja como modo,seja como ensinamento.

“Se o Espiritismo ressuscitar o espiritualismo, devolverá à sociedade o impulso que a uns dá a dignidade interior, a outros a resignação e a todos a necessidade de se elevarem para o Ser Supremo, esquecido e ignorado pelas criaturas ingratas.

Jean-Jacques Rousseau”

A CONTROVÉRSIA

(Enviada pelo Sr. Sabò, de Bordeaux)

Ó Deus! meu Senhor, meu Pai e meu Criador, dignaivos dar ainda ao vosso servo um pouco daquela eloqüência humana que levava a convicção ao coração dos Irmãos que vinham, em torno da cátedra sagrada, instruir-se nas verdades que lhes havíeis ensinado.

Enviando seus Espíritos para vos ensinarem vossos verdadeiros deveres para com ele e para com os vossos irmãos, quer Deus, acima de tudo, que a caridade seja o móvel de todas as vossas ações e de vossos irmãos, que querem fazer renascer esses dias de luto e estão na senda do orgulho. Este tempo está longe de vós e Deus seja bendito eternamente, por ter permitido que os homens cessassem para sempre essas disputas religiosas, que jamais produziram o menor bem e causaram tanto mal. Por que querer discutir os textos evangélicos, que já comentastes de tantas maneiras? Esses diversos comentários foram feitos quando não possuíeis o Espiritismo para vos esclarecer, e é ele que vos diz: A moral evangélica é a melhor; segui-a. Mas se, no fundo de vossa consciência, uma voz vos clama: Para mim há tal ou qual ponto obscuro e não me posso permitir pensar diferentemente de meus outros irmãos! Eloim! meu irmão, ponde de lado o que vos perturba; amai a Deus e a caridade, e estareis no bom caminho. Para que serviu o fruto de minhas longas vigílias, quando eu vivia em vosso mundo? para nada. Muitos não lançaram os olhos sobre os meus escritos, que não eram ditados pela caridade e que atraíram perseguições a meus irmãos. A controvérsia é sempre animada por um sentimento de intolerância, que pode degenerar até à ofensa, e a teimosia com que cada um sustenta suas pretensões torna mais distante a época em que a grande família humana, reconhecendo os erros passados, respeitará todas as crenças e não afiará o punhal que havia cortado esses laços fraternos. E para vos dar um exemplo do que vos digo, abri o Evangelho e aí encontrareis estas palavras: “Eu sou a verdade e a vida; aquele que crê em mim, viverá.” E muitos de vós condenais os que não seguem a religião que possui os ensinamentos do Verbo Encarnado. No entanto, muitos estão sentados à direita do Senhor, porque, na retidão de seus corações, o adoraram e amaram; porque respeitaram as crenças de seus irmãos e clamaram ao Senhor quando viram os povos se dilacerando entre si nas lutas de religião e porque não estavam aptos a encontrar o verdadeiro sentido das palavras do Cristo, não passando de instrumentos cegos de seus sacerdotes ou de seus ministros. Meu Deus, eu que vivia nesses tempos, em que os corações tempestuosos se voltavam contra os irmãos de uma crença oposta, se tivesse sido mais tolerante; se não houvesse condenado, em meus escritos, sua maneira de interpretar o
Evangelho, eles estariam hoje menos irritados contra seus irmãos católicos, e todos teriam dado um passo maior para a fraternidade universal. Mas os protestantes, os judeus, todas as religiões mais ou menos importantes, têm seus sábios e seus doutores; e, quando mais espalhado, o Espiritismo for estudado de boa-fé pelos homens instruídos, estes virão, como fizeram os católicos, trazer a luz aos seus irmãos e acalmar os seus escrúpulos religiosos. Deixai,pois, que Deus prossiga em sua obra de reforma moral, obra que vos deve elevar para Ele, todos no mesmo grau, e não sejais refratários aos ensinos dos Espíritos que Ele vos envia.

Bossuet

O PAUPERISMO

(Enviada pelo Sr. Sabò, de Bordeaux)

Em vão os filantropos da Terra sonham com coisas que jamais verão realizar-se. Lembrai-vos destas palavras do Cristo: “Sempre tereis pobres entre vós”, pois sabeis que estas são palavras de verdade. Meu amigo, agora que conheceis o Espiritismo, não achais justa e eqüitativa, essa desigualdade das condições, que fazia levantar vossos corações, cheios de murmúrio contra esse Deus que não havia feito todos os homens igualmente ricos e ditosos?
Pois bem! Agora que sabeis que Deus agiu com sabedoria em tudo quanto fez e que a pobreza é um castigo ou uma prova, buscai amenizá-la, mas não lanceis mão de utopias para fazer os infelizes sonharem com uma igualdade impossível. Certamente, por uma sábia organização social, é possível aliviar muitos sofrimentos; é isto que se deve visar. Mas pretender que todos venham a desaparecer da face da Terra é uma idéia quimérica. Sendo a Terra um lugar de expiação, sempre haverá pobres que expiam nessa prova o abuso dos bens de que Deus os fizera dispensadores, e que jamais experimentaram a satisfação de fazer o bem aos seus irmãos; que entesouraram moeda por moeda para acumular riquezas inúteis a si mesmos e aos outros; que espoliaram as viúvas e os órfãos para enriquecer. Oh! esses são muito culpados e seu egoísmo se voltará contra eles!

Guardai-vos, entretanto, de ver em todos os pobres culpados em punição. Se, para alguns, a pobreza é uma expiação severa, para outros é uma provação que lhes deve abrir mais rapidamente o santuário dos eleitos. Sim, sempre haverá pobres e ricos, a fim de que uns tenham o mérito da resignação, e outros o da caridade e do devotamento. Quer sejais ricos ou pobres, transitais sobre um terreno escorregadio, que vos pode precipitar no abismo, na descida do qual só as vossas virtudes vos podem reter.

Quando digo que haverá sempre pobres na Terra,quero dizer que enquanto houver vícios, que dela façam um lugar de expiação para os Espíritos perversos, Deus os enviará para nela se encarnarem, para seu próprio castigo e dos vivos. Merecei, por vossas virtudes, que a vós Deus não envie senão Espíritos bons,e de um inferno fareis um paraíso terrestre.

Adolfo, bispo de Argel

A CONCÓRDIA

(Enviada pelo Sr. Rodolfo, de Mulhouse)

Sede unidos, meus amigos: a união faz a força; proscrevei de vossas reuniões todo espírito de discórdia, todo espírito de inveja. Não invejeis as comunicações que recebe tal ou qual médium; cada um a recebe conforme a disposição de seu Espírito e a perfeição de seus órgãos.

Jamais vos esqueçais de que sois irmãos, e essa fraternidade não é ilusória: é uma fraternidade real, porque aquele que foi vosso irmão numa outra existência pode achar-se entre vós,fazendo parte de outra família.

Assim, sede unidos de espírito e de coração; buscai a mesma comunhão de pensamento. Sede dignos de vós mesmos, da doutrina que professais e dos ensinos que fostes chamados a espalhar.

Sede conciliatórios nas opiniões; que elas não sejam absolutas; procurai esclarecer-vos uns aos outros. Postai-vos à altura do vosso apostolado e dai ao mundo o exemplo da boa harmonia.

Sede o exemplo vivo da fraternidade humana e mostrai,até que ponto podem chegar os homens sinceramente devotados à propagação da moral.

Não tendo senão um objetivo, um só e mesmo pensamento deveis ter: o de pôr em prática o que ensinais. Que, pois, seja vossa divisa: Paz e fraternidade!

Mardochée

A AURORA DOS NOVOS DIAS

(Sociedade Espírita de Paris – Médium: Sra. Costel)

Eis-me aqui, eu que não evocais, mas que estou ansiosa para ser útil à Sociedade, cujo objetivo é tão sério quanto o é o vosso. Falarei de política. Não vos assusteis: sei em que limites devo restringir-me.

A situação atual da Europa oferece o mais impressionante aspecto ao observador. Em nenhuma época – não excetuo nem mesmo o fim do último século, que fez tão grande estrago nos preconceitos e abusos que oprimiam o espírito humano – o movimento intelectual se fez sentir mais ousado, mais franco. Digo franco, porque o espírito europeu marcha na verdade. A liberdade não é mais um fantasma sangrento, mas a bela e grande deusa da prosperidade pública. Na própria Alemanha, nesta Alemanha que retratei com tanto amor, o sopro ardente da época destrói os últimos baluartes dos preconceitos. Sede felizes, vós que viveis em tal momento; porém, mais felizes ainda serão os vossos descendentes. Aproxima-se a hora anunciada pelo precursor. Vedes empalidecer o horizonte, mas, como outrora os hebreus, ficareis no limiar da Terra Prometida e não vereis levantar-se o sol radioso dos novos dias.

Staël

Allan Kardec

R.E. , agosto de 1861, p. 355