Honestidade
Dissertações Espíritas
RECEBIDAS OU LIDAS NA SOCIEDADE POR VÁRIOS MÉDIUNS
PRIMEIRAS IMPRESSÕES DE UM ESPÍRITO
Médium – Sra. Costel
Falarei da estranha mudança que se opera no Espírito logo após a sua libertação. Ele se evapora dos despojos que abandona, como uma chama se desprende do foco que a produziu;depois sucede uma grande perturbação e essa dúvida estranha: estou morto ou vivo? A ausência das sensações ordinárias produzidas pelo corpo surpreende e imobiliza, por assim dizer. Como um homem habituado a um fardo pesado, nossa alma,aliviada repentinamente, não sabe o que fazer de sua liberdade; depois, o espaço infinito, as maravilhas sem-número dos astros,sucedendo-se num ritmo harmonioso, os Espíritos solícitos, flutuando no ar e deslumbrantes de luz sutil que parece atravessálos,o sentimento da libertação que inunda de repente, a necessidade de lançar-se também no espaço como aves que querem treinar as próprias asas, tais as primeiras impressões que todos nós sentimos. Não vos posso revelar todas as fases desta existência;apenas acrescentarei que, tão logo satisfeita com o seu encantamento, a alma ávida quer se lançar e subir mais às regiões do verdadeiro belo, do verdadeiro bem, e essa aspiração é o tormento dos Espíritos sedentos do infinito. Como a crisálida,esperam despojar-se de sua pele; sentem brotar as asas que os levarão, radiosos, ao azul abençoado. Mas, retidos ainda pelos laços do pecado, devem planar entre o Céu e a Terra, não pertencendo nem a um, nem a outra. Que são todas as aspirações terrenas,comparadas ao ardor insaciável do ser que entreviu um recanto da eternidade! Sofrei, pois, bastante, para chegardes depurados entre nós. O Espiritismo vos ajudará, pois é uma obra abençoada; liga entre si os Espíritos e os vivos, formando os elos de uma cadeia invisível que sobe até Deus.
Delphine de Girardin

OS ÓRFÃOS42

Médium – Sra. Schmidt

Meus irmãos, amai os órfãos. Se soubésseis quanto é triste ser só e abandonado, sobretudo na infância! Deus permite que haja órfãos, para exortar-nos a servir-lhes de pais. Que divina caridade amparar uma pobre criaturinha abandonada, evitar que sofra fome e frio, dirigir-lhe a alma, a fim de que não desgarre para o vício! Agrada a Deus quem estende a mão a uma criança abandonada, porque compreende e pratica a sua lei. Ponderai também que muitas vezes a criança que socorreis vos foi cara noutra vida, caso em que, se pudésseis lembrar-vos, já não estaríeis praticando a caridade, mas cumprindo um dever. Assim, pois, meus amigos, todo sofredor é vosso irmão e tem direito à vossa caridade;não, porém, a essa caridade que magoa o coração, não a essa esmola que queima a mão em que cai, pois freqüentemente bem amargos são os vossos óbolos! Quantas vezes seriam eles recusados, se na choupana a enfermidade e a fome não os estivessem esperando! Dai delicadamente, juntai ao benefício que fizerdes o mais precioso 42 N. do T.: Esta mensagem foi inserida por Allan Kardec em O Evangelho segundo o Espiritismo, capítulo XIII, item 18 da edição definitiva (1866). de todos os benefícios: o de uma boa palavra, de uma carícia, de um sorriso amistoso. Evitai esse ar de piedade e de proteção, que equivale a revolver a lâmina no coração que sangra e considerai que,fazendo o bem, trabalhai por vós mesmos e pelos vossos.
Jules Morin

Observação – O Espírito que assina a mensagem é completamente desconhecido. Podemos ver pela comunicação acima e por muitas outras do mesmo gênero, que nem sempre é necessário um nome ilustre para obter belas coisas. É uma puerilidade prender-se ao nome; é preciso aceitar o bem, venha de onde vier; aliás, o número de nomes ilustres é muito limitado; o dos Espíritos é infinito. Por que, então, não os haveria também capazes entre os que não são conhecidos? Fazemos esta reflexão porque há pessoas que julgam nada poder obter de sublime, a não ser chamando celebridades. A experiência prova o contrário todos os dias, mostrando-nos que podemos aprender alguma coisa com todos os Espíritos, desde que saibamos aproveitar as ocasiões.

UM IRMÃO MORTO À SUA IRMÃ VIVA

Médium – Sra. Schmidt

Minha irmã, tu pouco me evocas. Isto não me impede de vir ver-te todos os dias. Conheço teus dissabores; tua vida é penosa, bem o sei, mas importa sofrer a sorte nem sempre alegre. Todavia, há por vezes um alívio nas penas. Aquele, por exemplo,que faz o bem à custa da própria felicidade, pode, por si mesmo e pelos outros, afastar o rigor de muitas provas.

Neste mundo é raro ver-se fazer o bem com essa abnegação; certamente é difícil, mas não impossível, e os que têm essa sublime virtude são, em verdade, os eleitos do Senhor. Se nos déssemos bem conta dessa pobre peregrinação na Terra, haveríamos de o compreender. Mas assim não é: Os homens se agarram aos bens, como se devessem ficar sempre em seu exílio. Entretanto, o mais vulgar bom-senso, a mais simples lógica demonstram, diariamente, que aqui não passamos de aves de arribação e os que têm menos penas nas asas são os que chegam mais depressa.

Minha boa irmã, para que serve ao rico todo esse luxo,todo esse supérfluo? Amanhã estará despojado de todos esses vãos ouropéis a fim de descer ao túmulo, para onde nada levará. É verdade que fez uma bela viagem; nada lhe faltou, não sabia mais o que desejar e esgotou as delícias da vida. Também é certo que, em seu delírio, algumas vezes lançou, sorrindo, a esmola nas mãos de seu irmão; mas terá, por isso, retirado algo da boca? Não,porquanto não se privou de um só prazer, de uma única fantasia. Contudo, esse irmão é um filho de Deus, nosso pai comum, a quem tudo pertence. Compreendes, minha irmã, que um bom pai não deserda um de seus filhos para tornar mais rico o outro? Daí por que recompensará o que foi privado de sua parte nesta vida.

Assim, pois, os que se julgam deserdados, abandonados e esquecidos, alcançarão em breve a margem bendita, onde reinam a justiça e a felicidade. Mas infelizes dos que fizeram mau uso dos bens que nosso Pai lhes confiou! Infeliz, também, o homem favorecido com o dom tão precioso da inteligência, se dela abusou! Acredita-me, Maria, quando se crê em Deus nada existe na Terra que se possa invejar, a não ser a graça de praticar suas leis.
Teu irmão Wilhelm

O CRISTIANISMO

Médium – Sr. Didier Filho

O que se deve observar no Espiritismo é a moral cristã. Desde séculos houve muitas religiões, diversos cismas e numerosas pretensas verdades. E tudo quanto foi erguido fora do Cristianismo caiu, porque o Espírito Santo não o animava. O Cristo resume o que a moral mais pura e mais divina ensina ao homem, no tocante a seus deveres, nesta vida e na outra. A Antigüidade, no que tem de mais sublime, é pobre diante dessa moral tão rica e tão fértil. A auréola de Platão empalidece ante a do Cristo e a taça de Sócrates é muito pequena perante o imenso cálice do Filho do Homem. És tu, ó Sesóstris! déspota do poderoso Egito, que te podes medir, do alto de tuas pirâmides colossais, com o Cristo numa manjedoura? És tu, Solon? És tu, Licurgo, cuja bárbara lei condenava as crianças malformadas, que vos podeis comparar Àquele que disse face a face com o orgulho: “Deixai vir a mim as criancinhas”? Sois vós,pontífices sagrados do piedoso Numa, cuja moral exigia a morte viva das vestais culpadas, que vos podeis comparar Àquele que disse à mulher adúltera: “Levanta-te, mulher, e não peques mais”? Não, não mais com esses mistérios tenebrosos que praticais, ó sacerdotes antigos! Não mais com esses mistérios cristãos que são a base desta religião sublime, que se chama Cristianismo. Diante dEle todos vos inclinais, legisladores e sacerdotes humanos; inclinai-vos, porquanto foi o próprio Deus quem falou pela boca desse ser privilegiado que se chama Cristo.
Lamennais

O TEMPO PERDIDO

Médium – Srta. Huet

Se, por um instante, pudésseis refletir sobre a perda de tempo, mas refletir muito seriamente e calcular o imenso erro que cometeis, veríeis quanto esta hora, este minuto escoado inutilmente que não podeis recuperar, poderia ser necessário ao vosso bem futuro. Nem todos os poderes da Terra vo-lo poderiam devolver. E se o usastes mal, um dia sereis obrigados a repará-lo pela expiação, e, talvez, de maneira terrível! O que não daríeis, então, para recuperar o tempo perdido! Votos inúteis; pesares supérfluos! Assim, pensai bem nisto, em benefício de vosso interesse futuro e,mesmo presente, porque muitas vezes os pesares nos atingem mesmo na Terra. Quando Deus vos pedir contas da existência que vos concedeu, da missão que tínheis de cumprir, que havereis de responder? Sereis como o enviado de um soberano que, longe de cumprir as ordens de seu senhor, passava o tempo a divertir-se, não se ocupando absolutamente do negócio para o qual foi credenciado. Em que responsabilidade não incorreria à sua volta? Sois aqui os enviados de Deus e tereis que prestar conta do vosso tempo, passado com os vossos irmãos. Eu vos recomendo esta meditação.

Massillon

OS SÁBIOS

Médium – Srta. Huet

Desde que chamais um Espírito, Deus me permite vir. Vou dar-vos um bom conselho, sobretudo a vós, M...

Vós que vos ocupais sempre dos sábios, pois é a vossa preocupação, deixai-os de lado. Que podem eles com as crenças religiosas e, sobretudo, espíritas! Não repeliram em todos os tempos as verdades que se apresentaram? Não rejeitaram todas as invenções, tratando-as de quimeras? Dentre os que anunciavam essas verdades, uns eram tratados como loucos e, assim,encarcerados; outros lançados nas masmorras da Inquisição, outros ainda lapidados ou queimados. Mais tarde a verdade não brilhava menos aos olhos dos sábios surpresos, que a tinham posto sob o alqueire. Dirigindo-vos incessantemente a eles, quereis, novo Galileu, vos infligir a tortura moral, que é o ridículo, e ser forçado à retratação? Dirigiu-se o Cristo aos acadêmicos de seu tempo? Não. Pregava a divina moral a todos, em geral, e ao povo, em particular.

Para apóstolos ou propagadores de sua vinda, escolheu pescadores, gente simples de coração, muito ignorantes, que não conheciam as leis da Natureza e não sabiam se um milagre as poderia derrogar, mas que acreditavam sinceramente. “Ide – dizia Jesus – e contai o que vistes.”

Jamais operou um milagre que não fosse em favor dos que o pediam com fé e convicção. Recusou-os aos fariseus e aos saduceus que vinham para o tentar, e os chamou de hipócritas. Assim, dirigi-vos também a pessoas inteligentes, dispostas a crer; rejeitai os sábios e os incrédulos.

Aliás, o que é um sábio? Um homem mais instruído do que os outros, porque estudou mais, mas que perdeu o prestígio que tinha antigamente, auréola fatal que muitas vezes lhe valia as honras da fogueira. No entanto, à medida que a inteligência popular se desenvolveu, o seu brilho diminuiu. Hoje, o homem de gênio não mais teme ser acusado de feitiçaria. Já não é aliado de Satã.

A Humanidade esclarecida aprecia em seu justo valor aquele que trabalha muito e sabe muito; ela sabe colocar no pedestal que lhe convém o homem de gênio que produz belas obras. Como sabe em que consiste a ciência do sábio, não mais o atormenta; como sabe de onde emana o gênio criador, inclina-se perante ele. Mas, por sua vez, quer ter a liberdade de crer naquelas verdades que lhe prodigalizam consolações. Não quer que aquele que sabe mais ou menos Química, mais ou menos Retórica, que produz a mais bela ópera, venha entravar as suas crenças, lançandolhe o ridículo no rosto e tratando suas idéias como loucura. Ela se desviará desse caminho e silenciosamente continuará sua rota. Um dia a verdade envolverá o mundo inteiro, e os que a tinham repelido serão obrigados a reconhecê-la. Eu mesmo, que me ocupei do Espiritismo até meu último dia, sempre o pratiquei na intimidade.

Pouco me importa a Academia. Crede-me, mais tarde ela virá até vós.

Delphine de Girardin

O HOMEM

O homem é um misto de grandeza e de miséria, de ciência e de ignorância. É, na Terra, o verdadeiro representante de Deus, porquanto sua vasta inteligência abrange o Universo; soube descobrir uma parte dos segredos da Natureza; sabe servir-se dos elementos; percorre distâncias imensas por meio do vapor; pode conversar com o seu semelhante de um antípoda ao outro, pela eletricidade, que sabe dirigir; seu gênio é imenso; quando depuser tudo isto aos pés da Divindade e lhe render homenagem, será quase igual a Deus!

Mas como é pequeno e miserável, quando o orgulho se apossa de seu ser! Não vê a sua miséria; vê apenas sua existência, esta vida, que não pode compreender, lhe ser arrebatada algumas vezes instantaneamente, pela só vontade dessa Divindade que ele desconhece, porquanto não pode defender-se contra ela; é preciso que se cumpra a sua sorte! Ele, que tudo estudou, tudo analisou; ele, que conhece tão bem a marcha dos astros, conhece a força criadora que faz germinar o grão de trigo que lançou à terra? Pode criar uma flor, mesmo a mais simples e a mais modesta? Não; aí se detém seu poder. Deveria reconhecer, então, um poder muito superior ao seu; a humildade deveria apossar-se de seu coração e,admirando as obras de Deus, praticaria um ato de adoração.

Santa Teresa

A FIRMEZA NOS TRABALHOS ESPÍRITAS

Vou falar-vos da firmeza que deveis ter nos vossos trabalhos espíritas. Uma citação a respeito já vos foi feita; eu vos aconselho a estudá-la de coração e aplicar-lhe o Espírito,porquanto, assim como Paulo, sereis perseguidos, não em carne e osso, mas em espírito. Os incrédulos, os fariseus da época vos censurarão, vos ridicularizarão, mas nada temais; será uma prova que vos fortificará, se souberdes ofertá-la a Deus: mais tarde vereis vossos esforços coroados de sucesso. Será um grande triunfo para vós à luz da eternidade, sem esquecer que, neste mundo, já é uma consolação, uma felicidade, para as pessoas que perderam parentes e amigos, saber que são felizes, que é possível comunicar-se com eles. Marchai, pois, avante, cumpri a missão que Deus vos dá, e ela vos será levada em consideração no dia em que comparecerdes ante o Todo-Poderoso.

Channing

OS INIMIGOS DO PROGRESSO

Médium – Sr. R...

Os inimigos do progresso, da luz e da verdade trabalham na sombra; preparam uma cruzada contra as nossas manifestações; não vos preocupeis com isso. Sois sustentados poderosamente; deixai que se agitem na sua impotência. Entretanto, por todos os meios de que dispondes, dedicai-vos a combater, a aniquilar a idéia da eternidade das penas, pensamento blasfemo contra a justiça e a bondade de Deus, a fonte mais fecunda da incredulidade, do materialismo e da indiferença que invadiram as massas, desde que sua inteligência começou a se desenvolver. Prestes a se esclarecer, não obstante embrutecido bem depressa o Espírito compreendeu a monstruosa injustiça; sua razão a repele e, então, raramente deixa de confundir, no mesmo ostracismo, a pena que revolta e o Deus ao qual é atribuída. Daí os males sem-número que se abateram sobre vós, e para os quais viemos trazer o remédio. A tarefa que vos assinalamos vos será tanto mais fácil quanto as autoridades sobre as quais se apóiam os defensores desta crença têm, todas, se esquivado a um pronunciamento formal. Nem os Concílios, nem os Pais da Igreja resolveram essa grave questão. Se, conforme os próprios Evangelistas, e tomando ao pé da letra as palavras emblemáticas do Cristo, ele ameaçou os culpados com um fogo que não se extingue, um fogo eterno, nada há em suas palavras que prove haja condenado os culpados eternamente.

Pobres ovelhas desgarradas, sabei ver o Bom Pastor que, longe de vos querer banir para sempre de sua presença, vem, ele mesmo, ao vosso encontro para vos reconduzir ao aprisco. Filhos pródigos, deixai o exílio voluntário; dirigi vossos passos para a casa paterna: o pai vos estende os braços e está sempre pronto para festejar o vosso retorno à família.
Lamennais

DISTINÇÃO DA NATUREZA DOS ESPÍRITOS

Médium – Sra. Costel

Quero falar-te das altas verdades do Espiritismo. Elas estão intimamente ligadas às da moral, sendo, pois, importante jamais separá-las. Antes de mais, o ponto que atrai a atenção dos seres inteligentes é a dúvida sobre a própria verdade das comunicações espíritas. A verdade, primeira dignidade da alma, está contida por inteiro neste ponto de partida. Procuremos, então, estabelecê-la.

Não há um meio infalível para distinguir a natureza dos Espíritos, se abdicarmos da razão, da comparação, da reflexão. Estas três faculdades são mais que suficientes para distinguir seguramente os diversos Espíritos. O livre-arbítrio é o eixo sobre o qual gira o pivô da inteligência humana; o equilíbrio seria rompido se não tivessem os Espíritos senão que falar para submeter os homens; nesse caso o seu poder se igualaria ao de Deus. Não pode ser assim. O intercâmbio entre os humanos e os invisíveis assemelha-se à escada de Jacó: se a uns permite que subam, deixa que outros desçam. E agindo todos uns sobre os outros, sob os olhos de Deus, devem marchar para Ele, no mesmo espírito de amor e de inteligente submissão. Apenas abordei superficialmente o assunto, aconselhando-vos a aprofundá-lo sob todos os seus aspectos.

Lázaro

SCARRON

Médium – Srta. Huet

Meus amigos, fui muito infeliz na Terra, porque meu Espírito era igual e por vezes superior ao das pessoas que me rodeavam; mas o corpo era inferior. Assim, meu coração era ulcerado pelos sofrimentos morais e pelos males físicos que haviam reduzido meu envoltório terrestre a um estado lastimoso e miserável.

Meu caráter se azedara com as moléstias e as contrariedades que experimentava nas relações com os amigos. Deixei-me levar pela mais causticante malignidade; eu era alegre e aparentemente sem mágoas; no entanto, sofria bem no fundo do coração. Quando estava só, entregue aos secretos pensamentos de minha alma, gemia por encontrar-me em luta entre o bem e o mal. O mais belo dia de minha existência foi aquele em que meu Espírito se separou do corpo; em que, leve e iluminado por um raio divino, lançou-se às esferas celestes. Parecia que eu renascera e a felicidade apoderou-se de meu ser: enfim, eu repousava.

Mais tarde a consciência despertou; reconheci os erros contra o Criador; experimentei remorsos e implorei a piedade do Todo-Poderoso. Desde então, procuro instruir-me no bem; busco tornar-me útil aos homens e progrido diariamente. Contudo, sinto necessidade de que orem por mim e peço aos crentes fervorosos que elevem o pensamento a Deus em meu benefício. Se me chamarem, procurarei vir sempre e responderei às perguntas tanto quanto o puder. Assim se pratica a caridade.

Paul Scarron

O NADA DA VIDA

Médium – Srta. Huet

Meus bons amigos de adoção, permiti que vos diga algumas palavras, como conselhos. Deus me autoriza a vir até vós. Como lamento não poder comunicar-vos todo o ardor que havia em meu coração e que me animava para o bem! Crede em Deus, o autor de todas as coisas; amai-o; sede bons e caridosos: a caridade é a chave do céu. Para vos tornardes bons, pensai algumas vezes na morte; é um pensamento que eleva a alma e a deixa melhor. Porque,o que somos na Terra? Um átomo lançado no espaço; bem pouca coisa no Universo. O homem nada é: faz número. Quando olha à sua frente, quando olha para trás, é ainda o infinito que vê; sua vida, por mais longa que seja, é um ponto na eternidade. Pensai, pois, em vossa alma, pensai na vida nova que vos espera, porquanto não podeis duvidar que ela existe, fosse mesmo pelos desejos de vossa alma, jamais satisfeitos, o que é uma prova de que o serão num mundo melhor. Até logo.

S. Swetchine

AOS MÉDIUNS

Médium – Sr. Darcol

Quando quiserdes receber comunicações de Espíritos bons, importa que vos prepareis para esse favor pelo recolhimento, pelas intenções sãs e pelo desejo de fazer o bem, tendo em vista o progresso geral; porque, lembrai-vos, o egoísmo é uma causa de retardamento em todo avanço. Recordai que se Deus permite que alguns dentre vós recebam o sopro de alguns de seus filhos que, pela sua conduta, souberam merecer a felicidade de compreender sua bondade infinita, é que quer, por solicitação nossa, e à vista de vossas boas intenções, dar-vos os meios de avançar no seu caminho. Assim, pois, ó médiuns! tirai proveito dessa faculdade que Deus houve por bem vos conceder. Tende fé na mansuetude de nosso Mestre; ponde a caridade sempre em prática; jamais vos canseis de exercitar esta sublime virtude, assim como a tolerância.

Que as vossas ações estejam sempre em harmonia com a vossa consciência: é um meio certo de centuplicar vossa felicidade nesta vida passageira e de vos preparardes uma existência ainda mil vezes mais suave. Que, entre vós, se abstenha o médium que não se sentir com forças de perseverar no ensino espírita, porquanto, não tirando proveito da luz que esclarece, será menos escusável que um outro, e terá de expiar a sua cegueira.

Francisco de Salles

A HONESTIDADE RELATIVA

Médium – Sra. Costel

Hoje nos ocuparemos da moralidade dos que não a têm, isto é, da honestidade relativa, que se encontra nos mais pervertidos corações. O ladrão não rouba o lenço de seu camarada,mesmo quando este tenha dois; o negociante não vende caro para os amigos; o traidor, apesar de tudo, é fiel a um ser qualquer. Jamais um clarão divino está completamente ausente do coração humano; assim, deve ser conservado com cuidados infinitos, quando não expandido. O julgamento estreito e brutal dos homens impede, por sua severidade, muito mais mudanças positivas do que a prática de ações más. Desenvolvido, o Espiritismo deve ser e será a consolação e a esperança dos corações estigmatizados pela justiça humana. Repleta de sublimes ensinamentos, a religião paira muito alto para os ignorantes. Não alcança, com bastante clareza, a espessa imaginação do iletrado, que quer ver e tocar para crer. Esclarecida pelos médiuns, a crença florescerá no coração talvez ressequido do próprio médium. Assim, é principalmente ao povo que os verdadeiros espíritas devem dirigir-se, como outrora os apóstolos; que espalhem a doutrina consoladora; como pioneiros, que penetrem no pântano da ignorância e do vício, para arrotear,sanear, preparar o terreno das almas, a fim de que elas possam receber a bela cultura do Cristo.

Georges

PROVEITO DOS CONSELHOS

Médium – Srta. Huet

Aproveitais os nossos conselhos e o que vos dizemos diariamente? Não; muito pouco. Saindo de uma de vossas reuniões, entretendes a curiosidade do fato e o maior ou menor interesse que despertou nos assistentes. Mas haverá um só entre vós que se pergunte se pode aplicar a moral, o conselho que acabamos de prescrever, e se tem intenção de o fazer? Pediu, solicitou uma comunicação; obteve-a: isto lhe basta. Volta às suas ocupações diárias, prometendo a si mesmo vir rever um espetáculo tão interessante; conta os fatos aos seus amigos, a fim de lhes excitar a curiosidade, e somente para provar que os sábios podem ser confundidos; bem poucos o fazem com vistas a pregar a moral; muito poucos, mesmo, procuram melhorar-se.

Minha lição é severa; entretanto, não quero vos desencorajar. Trazei sempre a boa vontade, apenas com um pouco mais de bons sentimentos voltados para Deus e menos desejo de querer aniquilar os que não querem crer: estes dizem respeito ao
tempo e a Deus.

Marie (Espírito familiar)

PENSAMENTOS AVULSOS

Ó homens! como sois soberbamente orgulhosos! Vossa pretensão é realmente cômica. Quereis tudo saber e vossa essência se opõe a esta faculdade de compreensão universal. Não chegareis a conhecer esta maravilhosa Natureza senão pelo trabalho perseverante; não tereis a alegria de aprofundar esses tesouros e de entrever o infinito de Deus, senão quando vos melhorardes pela caridade, fazendo todas as coisas do ponto de vista do bem para todos, e referindo esta faculdade do bem a Deus, que, na sua generosidade inigualável, vos recompensará além de toda expectativa.

Massillon

Como muitas vezes se diz, o homem é o joguete dos acontecimentos. De quais acontecimentos se quer falar? Qual seria sua causa, seu objetivo? Jamais se viu nisso o dedo de Deus. Esse pensamento vago e materialista, mãe da fatalidade, perdeu mais de um grande Espírito, mais de uma profunda inteligência. Sabeis o que disse Balzac: “Não há princípios; só há acontecimentos.” Isto é, segundo ele o homem não tem mais livre-arbítrio; a fatalidade apodera-se dele no berço e o conduz até o túmulo. Monstruosa invenção do Espírito humano, esse pensamento abate a liberdade,isto é, o progresso, a ascensão da alma humana, demonstração evidente da existência de Deus. O homem que se deixasse assim conduzir seria escravo de tudo: dos homens e de si mesmo! Ó homem! examina-te. Nasceste para a servidão? Não; nasceste para a liberdade.
Lamennais
R.E. , novembro de 1860, p. 504