Juliano
Ditados Espontâneos
O ANJO DAS CRIANÇAS
(Sociedade – Médium: Sra. de Boyer)

Meu nome é Micaël. Sou um dos Espíritos prepostos à guarda das crianças. Que doce missão! E que felicidade proporciona à alma! Perguntais se me refiro à guarda das crianças? Mas não têm suas mães, anjos bons prepostos a essa guarda? E por que ainda é necessário um Espírito para delas se ocupar? Então não pensais nas que não têm mais essa boa mãe? Infelizmente não as há, e muitas? E não terá a própria mãe necessidade de ajuda algumas vezes? Quem a desperta em meio ao seu primeiro sono? Quem a faz pressentir o perigo? Quem cogita em aliviá-la, quando o mal é grave? Nós, sempre nós; que desviamos a criança travessa do precipício para onde corre; que dela desviamos os animais nocivos e afastamos o fogo que poderia misturar-se aos seus cabelos louros. Nossa missão é suave! Somos ainda nós que lhes inspiramos a compaixão pelo pobre, a doçura, a bondade; nenhuma criança, mesmo das piores, poderia nos irritar. Há sempre um instante em que seu coraçãozinho nos fica aberto. Alguns de vós se espantarão desta missão. Mas não dizeis freqüentemente: há um Deus para as crianças? sobretudo para as crianças pobres? Não, não há um Deus, mas anjos, amigos. E como poderíeis explicar de outro modo essas salvações miraculosas? Existem ainda muitos outros poderes, cuja existência nem mesmo suspeitais. Há o Espírito das flores, dos perfumes; há milhares, cujas missões, mais ou menos elevadas, vos pareceriam deliciosas e invejáveis, após vossa dura vida de provas. Eu os exortarei a virem ao vosso meio. Neste momento sou recompensada por uma vida inteiramente devotada às crianças. Casada jovem, com um homem que possuía vários filhos, não tive a felicidade de os ter de mim mesma. Completamente devotada a elas, Deus, o bom e soberano Senhor,concedeu-me ser ainda guarda das crianças. Doce e santa missão! eu o repito, cuja influência as mães aqui presentes não poderiam negar. Adeus, vou à cabeceira dos meus pequenos protegidos. A hora do sono é a minha hora, e é preciso que visite todos esses olhinhos fechados. Ficai sabendo que o bom anjo que vela por elas não é uma alegoria, mas uma verdade.

CONSELHOS

(Sociedade, 25 de novembro de 1859 – Médium: Sr. Roze)

Outrora vos teriam crucificado, queimado, torturado. A forca foi derrubada; a fogueira, extinta; os instrumentos de tortura, destruídos, a arma terrível do ridículo, tão poderosa contra a mentira, atenuar-se-á ante a verdade; seus inimigos mais temíveis foram encerrados num círculo intransponível. Com efeito, negar a realidade de nossas manifestações seria negar a revelação, que é a base de todas as religiões; atribuí-las ao demônio, pretender que o Espírito do mal venha confirmar e desenvolver o Evangelho, exortar-vos ao bem e à prática de todas as virtudes, é simplesmente e felizmente provar que ele não existe. Todo reino dividido contra si mesmo perecerá. Restam os Espíritos maus. Jamais uma árvore boa produzirá maus frutos; jamais uma árvore má produzirá bons frutos. Nada de melhor tendes a fazer senão responder-lhes o que respondia o Cristo aos seus perseguidores, quando formularam contra ele as mesmas acusações; e, como ele, rogar a Deus que os perdoe, pois não sabem o que fazem.

O Espírito de Verdade

(Outra, ditada ao Sr. Roze e lida na Sociedade)

A França conduz o estandarte do progresso e deve guiar as outras nações: assim o provam os acontecimentos passados e contemporâneos. Fostes escolhidos para serdes o espelho que deve receber e refletir a luz divina, que deve iluminar a Terra, até então mergulhada nas trevas da ignorância e da mentira. Mas se não estiverdes animados pelo amor do próximo e por um desinteresse sem limites; se o desejo de conhecer e propagar a verdade, cujas vias deveis abrir à posteridade, não for o único móvel a guiar os vossos trabalhos; se o mais leve pensamento íntimo de orgulho, egoísmo e interesse material achar lugar em vossos corações, não nos serviremos de vós senão como o artífice, que provisoriamente emprega uma ferramenta defeituosa; viremos a vós até que tenhamos encontrado ou provocado um centro mais rico do que vós em virtudes, mais simpático à falange de Espíritos que Deus enviou para revelar a verdade aos homens de boa vontade. Pensai nisto seriamente; descei aos vossos corações, sondai-lhes os mais íntimos refolhos e expulsai com energia as más paixões que nos afastam. A não ser assim retiraivos,antes de comprometerdes os trabalhos de vossos irmãos pela vossa presença, ou a dos Espíritos que traríeis convosco.
O Espírito de Verdade

A OSTENTAÇÃO

(Sociedade, 16 de dezembro de 1860 – Médium: Srta. Huet)

Numa bela tarde de primavera, um homem rico e generoso estava sentado em seu salão; sorvia, feliz, o perfume das flores de seu jardim. Enumerava, complacente, todas as boas obras que tinha praticado durante o ano. A essa lembrança não pôde deixar de lançar um olhar quase desprezível sobre a casa de um de seus vizinhos , que não pudera dar senão módica moeda para a construção da igreja paroquial. De minha parte, disse ele, dei mais de mil escudos para essa obra pia; deitei negligentemente uma cédula de 500 francos na bolsa que me estendia aquela jovem duquesa, em favor dos pobres; dei muito para as festas de beneficência, para toda sorte de loterias e creio que Deus me será grato por tanto bem que fiz. Ah! ia esquecendo uma pequena esmola, que dei há pouco tempo a uma infeliz viúva, responsável por numerosa família e que ainda cria um órfão. Mas o que lhe dei é tão pouco que, por certo, não será por isso que o céu se me abrirá.

Tu te enganas, respondeu de repente uma voz que lhe fez voltar a cabeça: é a única que Deus aceita, e eis a prova. No mesmo instante uma mão apagou o papel em que ele havia escrito todas as suas boas obras, deixando apenas a última; ela o levou ao céu.

Não é, pois, a esmola dada com ostentação que é a melhor, mas a que é dada com toda a humildade do coração.

Joinville, Amy de Loys

AMOR E LIBERDADE
(Sociedade, 27 de janeiro de 1860 – Médium: Sr. Roze)

Deus é amor e liberdade. É pelo amor e pela liberdade que o Espírito se aproxima dEle. Pelo amor desenvolve, em cada existência, novas relações que o aproximam da unidade; pela liberdade escolhe o bem que o aproxima de Deus. Sede ardorosos na propagação da nova fé; que o santo ardor que vos anima jamais vos leve a atentar contra a liberdade alheia. Evitai, por meio de uma insistência muita grande junto à incredulidade orgulhosa e temível, de exasperar uma existência meio vencida e prestes a render-se. O reino da violência e da opressão acabou; o da razão, da liberdade e do amor fraterno está começando. Não é mais pelo medo e pela força que os poderosos da Terra adquirirão, doravante, o direito de dirigir os interesses morais, espirituais e físicos dos povos, mas pelo amor e pela liberdade.
Abelardo

A IMORTALIDADE

(Sociedade, 3 de fevereiro de 1860 – Médium: Srta. Huet)

Como pode um homem, e um homem inteligente, não crer na imortalidade da alma e, conseqüentemente, numa vida futura, que não é outra senão a do Espiritismo? Em que se tornariam esse amor imenso que a mãe devota ao filho, esses cuidados com que o cerca na infância, essa atitude esclarecida que o pai dedica à educação desse ser bem-amado? Tudo isso seria, então, aniquilado no momento da morte ou da separação? Seríamos, assim, semelhantes aos animais, cujo instinto é admirável,sem dúvida, mas que não cuidam de sua progênie com ternura senão até o momento em que ela cessa de ter necessidade dos cuidados maternos? Chegado esse momento, os pais abandonam os filhos e tudo está acabado: o corpo está criado, a alma não existe. Mas o homem não teria uma alma, e uma alma imortal! E o gênio sublime, que só se pode comparar a Deus, tanto dEle emana, esse gênio que gera prodígios, que cria obras primas, seria aniquilado pela morte do homem! Profanação! Não se pode aniquilar assim as coisas que vêm de Deus. Um Rafael, um Newton, um Miguel Ângelo e tantos outros gênios sublimes abarcam ainda o Universo em seu Espírito, embora seus corpos não mais existam. Não vos enganeis; eles vivem e viverão eternamente. Quanto a se comunicarem convosco, é menos fácil de admitir pela generalidade dos homens. Somente pelo estudo e pela observação eles podem adquirir a certeza de que isso é possível.
Fénelon

PARÁBOLA

(Sociedade, 9 de dezembro de 1859 – Médium: Sr. Roze)

Em sua última travessia um velho navio foi assaltado por terrível tempestade. Além de grande número de passageiros, transportava uma porção de mercadorias estrangeiras ao seu destino, acumuladas pela avareza e cupidez de seus donos. – O perigo era iminente; reinava a maior desordem a bordo; os chefes se recusavam a lançar a carga no mar; suas ordens eram ignoradas; tinham perdido a confiança da tripulação e dos passageiros. Era preciso pensar em abandonar o navio. Puseram três embarcações no mar: na primeira, a maior, precipitaram-se, aturdidos, os mais impacientes e os mais inexperientes, que se apressaram a remar na direção da luz que avistaram ao longe, na costa. Caíram nas mãos de um bando de corsários, que os despojaram dos objetos preciosos que haviam recolhido às pressas, maltratando-os sem piedade.

Os segundos, mais espertos, souberam distinguir um farol libertador em meio às luzes enganadoras que alumiavam o horizonte e, confiantes, abandonaram o barco ao capricho das ondas; foram arrebentar nos arrecifes, ao pé do próprio farol, do qual não haviam tirado os olhos. Foram tanto mais sensíveis à sua ruína e à perda de seus bens quanto haviam entrevisto a salvação.

Os terceiros, pouco numerosos, mas sábios e prudentes, guiavam com cuidado o frágil barco em meio aos obstáculos; salvaram corpos e bens, sem outro mal além da fadiga da viagem.

Não vos contenteis, portanto, em vos guardardes contra a pirataria e contra os Espíritos maus, mas sabei, também, evitar o erro dos viajantes negligentes, que perderam os bens e naufragaram no porto. Sabei guiar vosso barco em meio aos escolhos das paixões e atracareis com felicidade no porto da vida eterna, ricos das virtudes que tiverdes adquirido em vossas viagens.
São Vicente de Paulo

O ESPIRITISMO
(Sociedade, 3 de fevereiro de 1860 – Médium: Sra. M.)

O Espiritismo é chamado a esclarecer o mundo, mas necessita de um certo tempo para progredir. Existiu desde a Criação, mas só era conhecido por algumas pessoas, porque, em geral, a massa pouco se ocupa em meditar sobre questões espíritas. Hoje, com o auxílio desta pura doutrina, haverá uma luz nova. Deus, que não quer deixar a criatura na ignorância, permite que os Espíritos mais elevados venham em nosso auxílio, para contrabalançar a ação do Espírito das trevas, que tende a envolver o mundo. O orgulho humano obscurece a razão e a faz cometer muitas faltas na Terra. São necessários Espíritos simples e dóceis,para comunicarem a luz e atenuarem todos os nossos males. Coragem! Persisti nesta obra, que é agradável a Deus, porque ela é útil para a sua maior glória, e dela resultarão grandes bens para salvação das almas.
Francisco de Sales

FILOSOFIA
(Sociedade, 3 de fevereiro de 1860 – Médium: Sr. Colin)

Escrevei isto: O homem! Que é ele? De onde veio? Para onde vai? – Deus? A Natureza? A Criação? O mundo? Sua eternidade no passado, no futuro! Limite da Natureza, relações do ser infinito com o ser particular? Passagem do infinito ao finito? – Perguntas que devia fazer o homem, criança ainda, quando viu pela primeira vez, com sua razão, acima da cabeça, a marcha misteriosa dos astros; sob seus pés a terra, alternativamente revestida com roupas de festa, sob o hálito tépido da primavera, ou coberta de um manto de luto, debaixo do sopro gelado do inverno; quando ele próprio se viu, pensando e sentindo, ser lançado por um instante nesse imenso turbilhão vital entre o ontem, dia de seu nascimento,e o amanhã, dia de sua morte. Perguntas que foram propostas a todos os povos, em todas as idades e em todas as suas escolas e que,no entanto, não permaneceram menos enigmáticas para as gerações seguintes. Contudo, questões dignas de cativar o espírito investigador do vosso século e o gênio do vosso país. – Se, pois, houvesse entre vós um homem, dez homens, tendo consciência da alta gravidade de uma missão apostólica e vontade de deixar um traço de sua passagem aqui, para servir de ponto de referência à posteridade, eu lhe diria: Durante muito tempo transigistes com os erros e preconceitos de vossa época; para vós, o período das manifestações materiais e físicas passou; aquilo a que chamais de evocações experimentais já não vos pode ensinar grandes coisas,porque, no mais das vezes, apenas a curiosidade está em jogo. Mas a era filosófica da doutrina se aproxima. Não permaneçais por muito tempo fixados nas fasquias do pórtico, em breve carcomidas, e penetrai sem hesitação no santuário celeste, conduzindo altivamente a bandeira da filosofia moderna, na qual escrevei sem medo: misticismo, racionalismo. Fazei ecletismo no ecletismo moderno; fazei-o como os Antigos, apoiando-vos na tradição histórica, mística e legendária, mas sempre cuidando de não sair da revelação, facho que a todos nos faltou, recorrendo às luzes dos Espíritos superiores, votados missionariamente à marcha do espírito humano. Por mais elevados que sejam, esses Espíritos não sabem tudo; só Deus o sabe. Além disso, de tudo quanto sabem,nem tudo podem revelar. Com efeito, em que se tornaria o livrearbítrio do homem, sua responsabilidade, o mérito e o demérito? E,como sanção, o castigo e a recompensa?

Entretanto, posso balizar o caminho que vos mostramos,com alguns princípios fundamentais. Escutai, pois, isto:

1o A alma tem o poder de subtrair-se à matéria;

2o De elevar-se muito acima da inteligência;

3o Esse estado é superior à razão;

4o Ele pode colocar o homem em relação com aquilo que escapa às suas faculdades;

5o O homem pode provocá-lo pela prece a Deus, por um esforço constante da vontade, reduzindo a alma, por assim dizer, ao estado de pura essência, privada da atividade sensível e exterior; numa palavra, pela abstração de tudo que há de diverso, de múltiplo, de indeciso, de turbilhonamento, de exterioridade na alma;

6o Existe no eu concreto e complexo do homem uma força completamente ignorada até hoje. Procurai-a, portanto.

Moisés, Platão, depois Juliano

COMUNICAÇÕES LIDAS NA SOCIEDADE
(Pelo Sr. Pêcheur)

Meu amigo, não sabeis que todo homem que marcha na senda do progresso tem sempre contra si a ignorância e a inveja? A inveja é a poeira levantada por vossos passos. Vossas idéias revoltam certos homens, pois não compreendem ou abafam no orgulho o clamor da consciência, que lhes grita: Aquilo que repeles, teu juiz te lembrará um dia; é uma mão que Deus estende para te retirar do lamaçal onde te lançaram as paixões. Escuta por um instante a voz da razão; pensais que viveis no século do dinheiro, onde o eu domina; que o amor às riquezas vos desseca o coração, carrega vossa consciência de muitas faltas e até de crimes que devereis confessar. Homens sem fé, que vos dizeis hábeis, vossa habilidade vos levará ao naufrágio; nenhuma mão vos será estendida; fostes surdos às misérias alheias e sereis tragados sem que caia uma lágrima sobre vós. Parai! ainda há tempo; que o arrependimento penetre vossos corações; que ele seja sincero, e Deus vos perdoará. Procurai o infeliz que não ousa lastimar-se e que a miséria mata lentamente. O pobre que tiverdes aliviado incluirá vosso nome em suas preces; abençoará a mão que talvez lhe tenha salvado a filha da fome que mata e da vergonha que desonra. Infelizes de vós, se fordes surdos à sua voz. Deus vos disse, pela boca sagrada do Cristo: Ama a teu irmão como a ti mesmo. Não vos deu a razão para julgardes o bem e o mal? Não vos deu um coração para vos compadecerdes dos sofrimentos dos vossos semelhantes? Não sentis que, abafando a consciência, abafais a voz do progresso e da caridade? Não sentis que apenas arrastais um corpo vazio? Que nada mais bate em vosso peito, o que torna incerta a vossa marcha? Porque fugistes da luz e os vossos olhos se tornaram de carne, as trevas que vos cercam vos agitam e causam medo. Procurais, mas tarde demais, sair dessa vida que desmorona aos vossos pés; o medo, que não podeis definir, vos torna supersticiosos. Fingis que sois um homem caridoso; no entanto, esperando resgatar a vida de egoísta, dais o ceitil que o temor vos arranca, mas Deus sabe o que vos leva a agir: não podeis enganá-lo; vossa vida se extinguirá sem esperança, e não podeis prolongá-la por um só dia. Extinguir-se-á, malgrado vossas riquezas, que vossos filhos ambicionam por antecipação, pois lhes destes o exemplo. Como vós, eles não têm senão um amor: o do ouro, único sonho de felicidade para eles. Quando esta hora de justiça soar, tereis de comparecer perante o Supremo Juiz que tendes desprezado.
Tua filha

A CONSCIÊNCIA

Cada homem tem em si o que chamais uma voz interior; é o que o Espírito chama de consciência, juiz severo que preside a todas as ações de vossa vida. Quando o homem está só,escuta essa consciência e se pesa no seu justo valor; muitas vezes tem vergonha de si mesmo. Nesse momento reconhece a Deus,mas a ignorância, conselheira fatal, o impele e lhe põe a máscara do orgulho. Ele se vos apresenta repleto do seu vazio; procura enganar-vos pela firmeza que apresenta. Mas o homem de coração reto não tem a cabeça altaneira: escuta com proveito as palavras do sábio; sente que não é nada, e que Deus é tudo. Procura instruir-se no livro da Natureza, escrito pela mão do Criador. Seu Espírito se eleva, expulsando as paixões materiais que muitas vezes vos desviam. Essa paixão que vos conduz é um guia perigoso. Guardai isto, amigo: deixai rir o céptico; seu sorriso se extinguirá. À sua
hora derradeira, o homem torna-se crente. Amigo, pensai sempre em Deus; somente Ele não se engana. Lembrai-vos de que há apenas um caminho que conduz a Ele: a fé e o amor aos semelhantes.
Tua filha

A MORADA DOS ELEITOS
(Pela Sra. Desl...)

Teu pensamento ainda está absorvido pelas coisas da Terra. Se queres nos escutar, é preciso esquecê-las. Tentemos conversar do alto; que teu Espírito se eleve para essas regiões,morada dos Eleitos do Senhor. Vê esses mundos que esperam todos os mortais, cujos lugares estão marcados conforme o mérito que tiverem. Quanta felicidade para aquele que se compraz nas coisas santas, nos grandes ensinamentos dados em nome de Deus! Ó homens! Como sois pequenos, comparados aos Espíritos desprendidos da matéria, que planam nos espaços ocupados pela glória do Senhor! Felizes os que forem chamados a habitar os mundos onde a matéria não é mais que um nome; onde tudo é etéreo e translúcido; onde os passos não mais se escutam. A música celeste é o único brilho que chega aos sentidos, tão perfeitos que captam os menores sons, desde que estes se chamem harmonia! Que leveza, a de todos os seres amados por Deus! Como percorrem, deliciados, esses sítios encantados, transformados em asilos! Ali não há mais discórdias, nem ciúme, nem ódio. O amor tornou-se o laço destinado a unir entre si todos os seres criados; e
esse amor, que enche seus corações, só tem por limite o próprio Deus, que é o fim, e no qual se resumem a fé, o amor e a caridade.
Um amigo

(OUTRA, PELO MESMO)

Teu esquecimento me afligia. Não me deixes mais por tanto tempo sem me chamares. Sinto-me disposto a conversar contigo e a te dar conselhos. Guarda-te de acreditar em tudo quanto outros Espíritos poderiam dizer-te; talvez eles te arrastem por um mau caminho. Antes de tudo, sede prudente, a fim de que Deus não tire a missão que te encarregou de realizar, a saber: ajudar a levar ao conhecimento dos homens a revelação da existência dos Espíritos ao redor deles. Nem todos se acham em condições de apreciar e compreender o elevado alcance das coisas, cujo conhecimento Deus ainda não permite senão aos eleitos. Dia virá em que esta ciência, cheia de consolação e de grandeza, será compartilhada pela Humanidade inteira, onde não mais se encontrará um incrédulo. Os homens, então, só poderão compreender uma verdade, tão palpável que não será posta em dúvida por um só instante pelo mais simples dos mortais. Digo-te,em verdade, que não passará meio século antes que os olhos e ouvidos de todos sejam abertos a essa grande verdade: os Espíritos circulam no espaço e ocupam diferentes mundos, conforme seu mérito aos olhos de Deus; a verdadeira vida está na morte, sendo necessário que o homem seja resgatado várias vezes antes de obter a vida eterna, a que todos deverão chegar, através de um número maior ou menor de séculos de sofrimentos, conforme tenham sido mais ou menos fiéis à voz do Senhor.
Um amigo

O ESPÍRITO E O JULGAMENTO
(Pela Sra. Netz)

A liberdade do homem é toda individual; nasceu livre,mas essa liberdade muitas vezes é a sua desgraça. Liberdade moral, liberdade física, tudo ele reuniu, mas com freqüência lhe falta o discernimento, aquilo a que chamais de bom-senso. Se um homem tiver muito espírito e lhe faltar esta última qualidade, é absolutamente como se nada tivesse; pois o que faria de seu espírito, se não pudesse governá-lo, se não tivesse a inteligência necessária para saber se conduzir, se acreditasse marchar no bom caminho, quando está no lodaçal, se pensasse ter sempre razão,quando muitas vezes está errado? O discernimento pode tomar o
lugar do espírito, mas este jamais substituirá aquele. É uma qualidade necessária e, quando não a temos, precisamos envidar todos os esforços para adquiri-la.
Um Espírito familiar

O INCRÉDULO
(Pela Sra. L...)

Vossa doutrina é bela e santa; sua primeira baliza está plantada, e solidamente plantada. Agora não tendes senão que marchar. O caminho que vos é aberto é grande e majestoso. Bemaventurado o que chegar ao porto. Quanto mais prosélitos houver feito, tanto mais lhe será contado. Mas para isto não deve abraçar a doutrina friamente; é necessário ter ardor, e este ardor será dobrado, porquanto Deus está sempre convosco quando fazeis o bem. Todos os que trouxerdes serão outras tantas ovelhas entradas no redil. Pobres ovelhas, meio tresmalhadas! Crede: o mais céptico,o mais ateu, o mais incrédulo, enfim, tem sempre um cantinho no coração que gostaria de ocultar a si mesmo. Pois bem! É esse cantinho que ele deve procurar e encontrar, é esse lado vulnerável que deve atacar. É uma pequena brecha, deixada aberta intencionalmente por Deus, para facilitar à criatura o meio de retornar ao seu seio.
São Bento

O SOBRENATURAL
(Pelo Sr. Rabache, de Bordeaux)

Meus filhos, vosso pai fez bem em vos chamar seriamente a atenção para os fenômenos produzidos nas sessões que vos ocupam há alguns dias. A julgá-los conforme instruções de certos Espíritos sectários, ignorantes ou dominadores, esses efeitos são sobrenaturais. Não creiais nisso, meus filhos; nada do que acontece é sobrenatural; se assim fosse, diz o bom-senso que só aconteceria fora da Natureza e, então, não o veríeis. Para que vossos olhos ou vossos sentidos percebam uma coisa, é de todo necessário que essa coisa seja natural. Com um pouco de reflexão não há um Espírito sério que consinta em crer em coisas sobrenaturais. Com isso não quero dizer que não haja coisas que assim pareçam à vossa inteligência, mas a única razão para isso é que não as compreendeis. Quando algum fato vos parecer sair do que julgardes natural, guardai-vos contra essa preguiça de espírito que vos induziria a crer que seja sobrenatural; procurai compreendê-lo,pois, para isto vos foi dada a inteligência. Para que vos serviria ela, se tivésseis de vos contentar em aprender e crer no que ensinaram vossos predecessores? É preciso que cada um ponha a inteligência a serviço do progresso, que é obra coletiva de todos. Já que sois dotados de pensamento, pensai; já que tendes a razão, que não vos foi dada sem motivo, examinai e julgai. Não aceiteis julgamentos acabados senão depois de submetidos ao crivo da razão. Duvidai longamente se não tiverdes certeza, mas jamais negueis aquilo que não compreendeis. Examinai, examinai seriamente. Somente o preguiçoso, o não inteligente e o indiferente aceitam como verdadeiro ou falso tudo quanto ouvem afirmar ou negar. Enfim, meus filhos, envidai todos os esforços para vos tornardes sérios e úteis, de modo a bem cumprirdes a missão que vos está confiada. Nunca é demasiado cedo para vos ocupardes do bem e do que é bom. Começai, pois, cedo, a vos ocupardes das coisas sérias. O tempo das futilidades é sempre muito longo: é inútil para o vosso progresso, que não deveis perder de vista um só instante. As coisas da Terra nada são; servem apenas à vossa passagem para outro estado, que será tanto mais perfeito quanto melhor preparados estiverdes.

Vossa avó

Allan Kardec

R.E. , abril de 1860, p. 185